A agricultura de subsistência pode ser identificada como um modelo de resistência ao processo de modernização econômica no ambiente rural. Por outro lado, o sistema capitalista potencializa a produção agrícola, com a utilização de defensivos agrícolas, equipamentos mecânicos e sementes modificadas.
Tal fenômeno resultou na diminuição da quantidade de comunidades agrícolas e, por consequência, de produtores que adotam o cultivo de subsistência. Contudo, apesar dos avanços tecnológicos e dos desafios, esse modo de cultivar ainda resiste, sendo praticado em diversas regiões do mundo.
Para um melhor entendimento dessas questões, neste artigo, vamos explicar o conceito de agricultura de subsistência, como ela funciona, sua importância e o panorama dessa cultura no Brasil. Também vamos mostrar as semelhanças com a agricultura familiar, diferenças em relação à comercial e os principais desafios que esse cultivo enfrenta. Boa leitura!
O que é agricultura de subsistência?
A agricultura de subsistência é um tipo de cultivo que utiliza métodos tradicionais e ocorre em comunidades ou grupos familiares. Diferente da agricultura moderna, caracterizada com extensa produção, mecanização e utilização de tecnologia, essa modalidade não foca a obtenção do lucro.
Como o próprio nome sugere, o seu objetivo é garantir a segurança alimentar de quem a desenvolve, ou seja, o próprio sustento. É por esse motivo que as produções de subsistência costumam ser bem menores, quando comparadas às industriais. Outro ponto é o cenário, que visualmente é totalmente diferente.
O modelo industrial conta com grandes espaços de terra, em que praticam a monocultura, bem como equipamentos de ponta. Já na agricultura familiar, é comum encontrar diversos tipos de ferramentas manuais simples, em quantidade reduzida de cada uma.
Outra diferença é que os agricultores de subsistência não necessariamente consomem tudo aquilo que cultivam. Eles também comercializam ou trocam seus produtos nas feiras da comunidade, ou vendem diretamente para supermercados e hortifrútis, obtendo, dessa forma, alguma renda proveniente do seu trabalho.
Como o cultivo de subsistência funciona?
A forma como funciona a agricultura de subsistência pode ser entendida com a observação das suas características. Em geral, as atividades são realizadas com diferentes tipos de plantações (policultura), de modo a obter uma dieta diversificada para a família ou comunidade.
Normalmente, ela é realizada pelo agricultor e sua família, em pequenas propriedades rurais identificadas como minifúndios. Em geral, há pouca produtividade devido à mão de obra limitada, pouca inovação e falta de utilização de tecnologia, assim como grande dependência de técnicas naturais.
Exemplo disso é o uso de esterco e compostagem, produzidos na própria terra do agricultor, pelos animais do local. Ao final da cadeia, todos os alimentos ou colheitas que não foram consumidos voltam ao processo de alimentação do gado.
Para o minifúndio, esse sistema é eficiente, pois funciona como um circuito fechado, em que praticamente não existem desperdícios, ou seja, é uma agricultura sustentável.
Tipos de agricultura de subsistência
A agricultura de subsistência não se limita apenas a uma forma de lidar com o cultivo. Ela pode ser mutável ou nômade, conforme comentamos, a seguir.
Agricultura mutável
Esse tipo de agricultura faz parte de um longo processo, em que os agricultores utilizam um pedaço de terra até que todos os seus nutrientes acabem e, após alguns anos, voltam para reutilizá-la. Isso ocorre da seguinte forma: o produtor prepara uma parte da terra para fazer os seus cultivos.
Em geral, a fertilidade do solo se mantém por cerca de três anos, até o seu potencial diminuir. Nesse momento, o agricultor transfere a plantação para outro lugar, deixando a terra já utilizada para que os processos naturais possam recuperar os nutrientes do solo.
Dessa forma, após alguns anos ou, até mesmo, uma década, o produtor pode voltar a plantar nesse pedaço de terra. Trata-se de uma prática mais demorada, porém, mais sustentável, especialmente, quando não há necessidade de grandes extensões de terra.
Criação nômade
Na criação nômade, como o próprio nome sugere, o agricultor não permanece para sempre em uma mesma terra. Em geral, busca outros locais propícios a uma boa cultura, e que apresentem condições para alimentar os seus animais. Esse tipo de criação ainda é muito comum em algumas partes da Ásia e da África.
Qual é a importância da agricultura de subsistência?
Esse tipo de agricultura tem uma grande relevância para garantir a segurança alimentar às famílias rurais, que, muitas vezes, encontram-se à margem dos grandes centros urbanos e da sociedade industrial.
Segundo estudos da FAO (Food and Agriculture Organization), os pequenos produtores rurais são partes essenciais nos países em desenvolvimento, sendo considerados a chave para o atendimento às demandas populacionais em relação à comida.
A agricultura de subsistência também tem um grande valor para o comércio, pois fornece diferentes matérias-primas para o agronegócio e consumidores finais, tais como produtos frescos para os mercados hortifrúti.
Qual é o panorama da agricultura de subsistência no Brasil?
Segundo a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e conforme o último censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no Brasil, a agricultura de subsistência representa 67% da força de trabalho nas atividades agropecuárias, e equivale a 77% dos estabelecimentos agrícolas do país.
Isso significa que a agricultura familiar atingiu grande representatividade em relação aos alimentos produzidos no país. Isso é relevante, especialmente, se considerarmos o grande potencial brasileiro para a produção de alimentos e commodities.
Produção de subsistência
As culturas que predominam nesse tipo de agricultura incluem feijão, arroz, batata, mandioca e milho, além da criação de animais, como suínos, bovinos e aves. Pelo fato de não utilizar insumos ou defensivos agrícolas (ou usar em quantidade reduzida), a produção resulta em alimentos orgânicos, considerados mais saudáveis e com melhor valor para a sua comercialização.
O meio ambiente também se beneficia com culturas diversificadas em diferentes épocas produtivas. Isso porque a terra passa a ser naturalmente adubada, mantendo-se em equilíbrio.
Esse equilíbrio natural não ocorre em culturas únicas e extensivas, típicas de grandes produções, que podem gerar o desgaste do solo. Provocam, assim, em um período de dois a três anos, a queda da fertilidade do solo desmatado, exigindo a exploração de outras regiões.
Ainda que a subsistência consista em uma alternativa sustentável para o meio ambiente e economia, ela não é considerada prioritária no cenário nacional. Isso porque os grandes produtores são os maiores beneficiários de programas de incentivo, por meio de isenção de impostos e facilidades para obtenção de empréstimos.
Agricultura de subsistência é a mesma coisa que agricultura familiar?
Podemos dizer que a agricultura de subsistência é, basicamente, a mesma coisa que a agricultura familiar, já que elas compartilham características semelhantes.
O que ocorre em ambas as atividades, é que o objetivo final não é o lucro. Em termos gerais, pode ser identificado, simplesmente, como “plantar para comer”.
Qual é a diferença entre a agricultura de subsistência e a comercial?
A principal diferença é que a agricultura comercial tem o objetivo de lucrar, enquanto a de subsistência é dirigida para o consumo próprio. Esse aspecto cria um efeito dominó em relação a mudanças práticas e conceituais, tais como nível de produtividade, quantidade de pessoas envolvidas, adoção de tecnologias e tipos de culturas.
As policulturas são características marcantes da agricultura familiar. Já na agricultura comercial, é comum verificar grandes latifúndios sendo utilizados para a criação de monoculturas, com aplicação de inovações, técnicas de irrigação avançadas e uso de tecnologia para o aumento da produtividade.
Quais são os principais desafios para esse tipo de agricultura?
Há alguns desafios que o agricultor e o próprio mercado apresentam, que precisam ser considerados. Um dos principais é a falta de tecnologia nas fazendas, que ocorre devido ao baixo nível de conhecimento e custos dos dispositivos e sistemas envolvidos.
Outro entrave é abrangência da produção, tendo em vista que a produtividade é limitada e, em geral, não é utilizado um sistema consolidado de logística. Por fim, a adaptação às mudanças climáticas é outro aspecto desafiador, especialmente, porque o aquecimento global provoca alterações extremas em climas tropicais, regiões propícias à prática da agricultura familiar.
Como vimos, a agricultura de subsistência é um importante meio de garantir a sobrevivência de muitas famílias que dependem desse tipo de cultura, mas são muitos os obstáculos que o produtor rural precisa enfrentar para construir um negócio sustentável e economicamente saudável. Nesse sentido, é importante buscar meios para superá-los, evitar perdas e não deixar que a falta de incentivos públicos seja um empecilho.
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